Já falamos aqui que cosmético natural não é uma categoria fixa, e sim uma gradação, uma questão de “quanto”, nunca de “sim ou não”. O problema é que, muitas vezes, o termo é usado de forma binária, como se bastasse colocar a palavra "natural" na embalagem para isso dizer tudo. Mas não diz.
No nosso post anterior, explicamos melhor os níveis de naturalidade dos ingredientes, e a explicação de onde partimos para organizar essa classificação. Agora, seguimos a conversa mostrando como as certificadoras atuam nesse contexto.
O papel das certificadoras
As certificadoras surgem como um elo de confiança entre quem produz e quem consome. Uma tentativa de oferecer algum grau de transparência dentro de um sistema em que a origem das matérias-primas é amplamente desconhecida. Afinal, vivemos numa sociedade onde fomos completamente afastados dos modos de produção. Raramente sabemos o que estamos passando na pele.
Certificações como Ecocert e Cosmos foram criadas com o objetivo de regulamentar o uso de ingredientes e processos dentro de uma lógica industrial, ou seja, são balizadores importantes dentro da indústria cosmética, que é imensa, globalizada, e muito distante do dia a dia de quem consome seus produtos.
A Ecocert ela desde o seu início aponta quais os ingredientes menos piores que existiam. Felizmente com o tempo cada vez mais tem surgido novos ingredientes ecológicos e ela passou a indicar os melhores de acordo com critérios principalmente de biodegradabilidade. Como foi uma certificação criada pela industria, os critérios parecem que são um tanto flexibilizados.
Já a Cosmos leva em consideração todo o processo de obtenção dos insumos, e tem uma lista de processos permitidos:
Tipo de Processo Permitido pela COSMOS?
Prensagem, maceração, filtração ?? Permitido — Processos físicos naturais
Extração com álcoois ou CO? ?? Permitido — solventes de origem vegetal
Fermentação (biotecnológica) ?? Permitida, como parte da Green Chemistry
Esterificação, hidrolise, etc. ?? Permitido com critérios sustentáveis
Nanomateriais ? Proibido, salvo exceções muito específicas
OGMs ? Totalmente proibidos
Irradiação (gama, raio-X) ? Proibido
Alcóxilação / etoxilação ? Proibido
Sulfonation (como principal reação) ? Proibido
Bleaching em suporte animal ? Proibido
Uso de formaldeído ou mercúrio ? Proibido
Essas certificações definem listas de ingredientes permitidos, proibidos e restritos, estabelecendo critérios técnicos, de rastreabilidade e de impacto ambiental. Todas elas hoje já proibem todos os ingredientes petroquímicos (parabenos, phenoxyethanol, fragrâncias sintéticas, corantes sintéticos, silicones, PEGs, etc.)
Entender isso é fundamental para reduzir o greenwashing (que é quando marcas se pintam de verde no discurso, mas não sustentam esse posicionamento na prática).
Certificações ajudam, mas não bastam
Na cosmética artesanal natural, no entanto, temos a chance de ir além dos critérios industriais. Podemos ser mais criteriosos, mais exigentes, mais atentos à origem real das matérias-primas. Podemos conhecer de fato os produtores, incentivar o cultivo orgânico e agroecológico, fortalecer circuitos curtos de comercialização e apoiar cadeias que respeitam a vida, e não apenas o mercado.
Por isso, aqui na Cosmético Livre, acreditamos em algo além do selo. Não nos prendemos a uma certificadora específica, mas buscamos produtores que compartilhem do nosso posicionamento: usar ingredientes de verdade, vindos de cultivos sem veneno, com rastreabilidade social e ambiental.
Não demandamos certificação dos nossos fornecedores pois acreditamos na autonomia e soberania dos povos, assim como na força das redes. Entretanto para os insumos químicos, levamos em consideração a risca os processos permitidos pela Cosmos.
Nosso convite
Esperamos que esse conteúdo te ajude a compreender com mais profundidade o que está por trás da cosmética que se diz natural. O termo vem sendo cada vez mais esvaziado e cooptado por grandes interesses — mas nós acreditamos que é possível mantê-lo vivo, desde que ele esteja alinhado a práticas conscientes e a um olhar para a vida em sua amplitude, não apenas para o lucro. Com transparencia e consciencia, e sem acreditar em nenhuma afirmação categoria, afinal nada é preto do branco, sim ou não, sempre são nuances que só o conhecimento e sabedoria podem nos ajudar a distinguir.
Na Cosmético Livre, temos clareza sobre nosso posicionamento. E você?
Como você e sua marca se posicionam?